foto de tuende
A nossa língua é sempre um sorriso de alma. É nas palavras da língua que nos acarinha a fala que crescemos e encontramos a nossa calma.
Dizemos morte e dizemos amor. Às vezes, com a mesma dor.
Eu choro com mais vontade por saber que na minha língua há uma palavra chamada saudade. Faz-me sorrir e entristecer com a mesma vontade.
O que escrevo corta-me como dentes famintos de cão. Ainda assim, estendo-lhe a mão.
A língua que nos escreve por fora as palavras que calamos por dentro é-nos grata e não. Dá-nos um agradável bater no peito e depois cai-nos o coração. Morre-nos aos pés e o olhar aumenta-nos a dor por dez.
No ódio, as palavras que nos saem da boca são a fera que sai da toca.
A raiva transforma as palavras em animais selvagens.
O calor das veias leva-nos para outras paragens onde ardem mil sóis na nossa parte do céu. Quando nos vem a vontade do regresso só choramos tudo o que se perdeu.
Ficou a cinza. O resto, o calor das palavras levou. Ardeu.
É fácil acreditar que a culpa é das palavras e que tudo foi um mal-entendido que se deu. Mas não se deu nada. Tirou-se.
A raiva pegou numa história mal contada e, a partir daí, vingou-se.
Mas a raiva não se vinga na língua, apenas lhe altera a voz. A malvadez vingativa, essa, regressa a nós.
Depois, resta-nos apenas a língua. E, com essa única companhia, ficamos sós.
Não tem de ser essa tristeza. Mesmo para a palavra mais sozinha podemos encontrar uma companhia. Trazemos pela mão a dúvida e apresentamos-lhe a certeza.
A fealdade também casa com a beleza.
E a tristeza partilha o coração com a alegria.
A cada respirar se dão encontros improváveis de palavras que envergonham os limites da poesia.
Se mais eu pudesse, mais encontros desses eu faria.
Eu seria o mágico e a língua seria o meu melhor truque de magia.
9 comentários:
Quantas vezes se tem já prescindido do papel e se usam outros formatos mais etéreos?...
Gostei.
E deixa-me a pensar nas palavras que já quis dizer e apenas o papel soube, porque a língua nunca as soltou, apenas os dedos.
Beijitos :)
Quer dizer ...
Eu já não digo nada ... que tá muito lindo e o costume, se bem que às vezes não entra logo à primeira e sim, sei que é essa a intenção. Tens de concordar que as aliterações deixam-nos um pouco atordoadas (só gajas a comentar aqui) e sim, sei que também é essa a intenção.
Olha, sabes que mais? Acho que devias fazer dinheiro com estes textos. Compilar num livro e tal ...
Queres que te deseje feliz natal? Não? ok.
Fada, palavras leva-as o vento, e o vento enregela quando se dorme ao relento (pronto, foi só para rimar).
~
Maya, ;)
FAQ(er), essa frase é um tanto ou quanto "batida", não?...
(Deve ser o vento forte que a bate, deve, deve...)
Se o vento for quente, não enregela quem dorme ao relento, poderá até ser confortável e dar-lhe alento... Ou enlouquecê-lo num momento...
(Pronto, foi só para te imitar.)
Beijito
(E desejo-te bons sonhos, com ou sem vento, porque saio daqui a rir que nem uma perdida... Ou melhor, "faqedada". ;) )
Vou começar a cobrar pela boa disposição. Sempre quero ver quem contribui quando eu colocar por aqui um botãozinho a dizer DONATE.
Experimenta lá!!!
Talvez renda, a tentativa!
;)
Beijitos
"Talvez renda"?
Ainda me acusam de prostituição, ou o raio!
E aposto que, se rendesse, algum burocráticozinho excrementício iria logo lembrar-se de legalizar a coisa só para me tramar com uma carga de impostos e taxas de mais não sei o quê!
Não, obrigado.
Mau... mas afinal, que serviços implicaria carregar no botão do DONATE??? :p
Para começar, implicaria fazer-me ganhar dinheirinho. O resto não é assim tão importante...
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